Fala, povo de Deus, ça va com vocês? 😛
Hoje eu finalmente voltei ao blog para contar pra vocês o que aconteceu comigo na hora de trocar de famílias aqui na França. Começando pelo começo, vou tentar explicar o motivo do meu rematch.
- Eu morava num lugar bastante afastado de Paris (1h40 em 3 transportes), o que me fazia gastar o dia inteiro para ir (saía 9h20) e voltar (chegava 15h45) do curso de francês.
- A família era espanhola e não falava nem um pouco de francês em casa, então isso atrasou um pouco o desenvolvimento do meu francês (apesar de ter ajudado bastante na fluência do espanhol).
- A mãe estava de licença médica desde setembro, um mês após a minha chegada e, apesar de parecer ser uma coisa boa, eu não conseguia me conectar com a criança, ficava insegura sobre meu horário de trabalho – porque não tinha schedule -, e não pude ensinar inglês para o menino ou ter nenhum momento sozinha na casa.
- O pai me chamou para conversar e, na conversa, me disse coisas como:
- “Espero que você saiba que esta não é a sua casa e que você não pode fazer o que nós fazemos, então não quero que o seu notebook esteja em cima da mesa, não quero que você fale no Skype aqui no andar de baixo, não quero que você deite no sofá e, por favor, use o celular quando estiver no seu quarto” – No entanto, eu não podia falar com minha família ou amigos de dentro do meu próprio quarto porque o kid dormia no quarto ao lado.
- “Se você se atrasar para buscar M. uma vez que seja, espero que saiba que essa vai ser a última vez.” – No entanto, nunca me atrasei nenhuma vez.
- “Você estuda muito longe daqui, se a gente precisar que você venha rápido por razão de alguma emergência, o que você vai fazer?” – Mas eu estudo em Paris porque era o único lugar relativamente próximo com escolas de francês aprovadas pela prefeitura, de acordo com meu visto. Eles é que moravam longe de tudo.
Depois dessa última conversa, em que me senti muito acuada, resolvi que era hora de procurar uma família que oferecesse um lugar para a au pair morar fora da casa. Assim, eu teria muito mais privacidade e liberdade para falar com minha família, meus amigos e voltar a dar minhas aulas de inglês por vídeo.
Passei a procurar por uma família nova no Au Pair World, sempre buscando quem não precisasse de motorista (porque não tenho CNH) e oferecesse um lugar para morar fora da casa (studio, apartamento, kitchenette, qualquer coisa). Para minha surpresa, e com a ajuda da Lara, uma amiga do grupo Au Pairs na França, encontrei mais de 20 famílias dentro desse perfil e mandei mensagens para todas no dia seguinte à conversa com o host dad.
Recebi respostas de quatro famílias, mas duas queriam alguém que passasse roupa (e a última vez que tentei passar roupa, eu queimei tudo hahaha #whitepeopleproblems).
A terceira foi um host dad que me ligou, conversamos e tudo, mas quando eu mandei um e-mail perguntando coisas relevantes, ele respondeu à pergunta “Que tipo de relação vocês pretendem ter com a au pair?” com a seguinte frase: “amigável ou mais, se houver afinidade”.
Baile que segue e a quarta família nem me respondeu…
Final de semana seguinte, eu estava chorando as minhas pitangas para a Lara e ela me recomenda enviar mensagens novamente para todas as famílias. “Vai que eles perderam seu nome no meio de tantas aplicações, né? Não custa tentar outra vez”, ela disse. E lá vou eu perder mais uma noite de sábado enviando mensagens.
Domingo de manhã, uma família respondeu querendo me ligar. Pedi que ligassem às 14h e conversamos por telefone. A host mom perguntou se eu poderia me encontrar com eles pessoalmente e eu disse que sim, inclusive sugeri que fosse no mesmo dia, já que eu já estava em Paris (e livre).
Fui à casa da família e conheci todos. São quatro filhos no total, mas calma!! hahaha Porque as meninas mais velhas tinham 18 e 15 anos, então eu não seria responsável por elas. Os meninos de 10 anos e de 8 é que seriam minha responsabilidade. Os pais foram muito agradáveis e simpáticos, responderam todas as minhas perguntas e me mostraram a kitchenette em que eu iria morar. Fora da casa deles, mas dentro do terreno. Com uma entrada própria, mini-cozinha e banheiro. Ja com relação ao salário, eu teria, livre, o dobro do que tinha na família anterior.
Na hora de voltar para casa, a host mom me perguntou: “E então, quando eu posso ter uma resposta sua?” e eu, nada mais nada menos que super empolgada, disse: “olha, se quiser, eu posso responder agora mesmo que EU QUERO” hahaha E, assim, combinei com ela que falaria com a minha host family na sexta-feira daquela mesma semana, antes que eles viajassem para passar os feriados na Espanha.
Passei a semana inteira muito tensa a respeito dessa conversa e resolvi que iria escrever uma carta para me ajudar a manter as ideias em ordem e a falar tudo o que eu queria sem me perder muito no espanhol. Como é minha terceira língua, eu não estava 100% segura de conseguir expressar meus pensamentos sem ficar nervosa demais para conseguir colocar o espanhol para jogo.
Na quinta-feira (20), percebi que o pai estava de bom-humor e decidi que seria o melhor momento para conversar com eles, já que viajariam no dia seguinte. A minha ideia era oferecer duas possibilidades: que eu saísse da casa em 15 dias, como manda a Lei, para que eu já não estivesse lá quando eles voltassem da Espanha oooooou que eu ficasse por 4 semanas, para que eles tivessem mais tempo de encontrar outra pessoa, já que seria difícil para eles, morando assim no fim do mundo.
Sentei à mesa para jantar e acabei comendo antes de todo mundo. Eu não fazia ideia do que ia dizer para começar, mas achei que a melhor coisa seria desembuchar logo e depois explicar os motivos. Então comecei com:
“Eu queria conversar com vocês..” – e os dois se viraram para mim com olhos de expectativas. “É que eu falei com meus pais e com minhas irmãs, ouvi alguns conselhos deles e decidi que não vou continuar sendo au pair aqui.”A host mom concordou com a cabeça, passando a comer bem devagar. O host dad levantou as duas sobrancelhas, como quem espera maiores explicações, então continuei.”Sabia que ia ficar muito nervosa para falar tudo, então decidi escrever uma carta, que vou ler agora” – eu disse, enquanto pegava o celular para ler o documento no meu Google Drive. Li tudo, me atropelando um pouco nas palavras, mas terminei enquanto os dois só assentiam e mastigavam bem devagar.
Silêncio absoluto até o host dad dizer: “Bem, se você passou esses quatro meses tentando decidir se nós éramos uma boa família pra você, espero que saiba que nós também passamos quatro meses tentando decidir se você era uma boa au pair para nós”.Concordei com a cabeça e perguntei o que eles preferiam fazer, então. Duas ou quatro semanas de aviso prévio?
O host dad olhou para a esposa e ela respondeu que preferia 4 semanas, porque eles iriam precisar de tempo para encontrar outra pessoa. Eu concordei e tirei o prato da mesa o mais rápido possível, querendo desaparatar da cozinha e ir correndo pro meu quarto. Subi as escadas, deitei na cama e desabafei com a minha irmã sobre como tinha sido a conversa. Um pouco aliviada até, porque eu estava com muito medo de que fosse pior. (O host dad, às vezes, chegava a gritar com a host mom e seu temperamento explosivo me assustava bastante). Mas meu alívio só durou até receber a seguinte mensagem da host mom: “Carla, desculpa incomodar, mas se você ainda estiver acordada, Ricardo* quer falar com você.“
Eu gelei. E foi nessa hora que eu percebi que ainda não tinha acabado…